Tuesday, April 05, 2005

 

UM POUCO DE TRISTEZA.

Uma coisa que em linhas gerais é muito triste é essa coisa de dissertar sobre a tristeza. O poeta dizia que ela não tem fim, mas a felicidade sim, e se formos seguir este pensamento a gente nasce, vive e morre triste. Que coisa triste! A tristeza, assim como pizza, tem vários tipos e, assim como pizza, se tem a opção de saboreá-la pouco a pouco, jogar ela para dentro de uma vez, ou arremessá-la para longe sem dó ao notar que a sardinha utilizada ou a azeitona preta haviam passado do ponto. Há aquela tristeza dos dias de chuva, quando você escuta os pingos sobre a telha e sente o cheiro de terra que remete qualquer um a uma nostalgia sem ter porquê ou a um programa Globo Rural. Tem aquela tristeza da descoberta. O dia fatídico em que se descobre estar de aviso prévio, ela com outro ou que aquele iogurte que acabou de devorar está com a validade vencida há pelo menos dois meses e suas mãos já estão tremendo enquanto seus olhos queimam como nunca. Tem uma tristeza que é uma forte ameaça aos regimes “socialistas” que é a tristeza da perda, seja de um amor, de um parente ou de uma amizade. Até porque a tristeza da perda se confunde com a sensação da posse e fica difícil explicar como alguém pode ter uma posse onde o que se prega são bens comuns.
Existe a tristeza do torcedor que vê seu time perder, a tristeza do idoso ao lembrar seus dias de vigor e juventude, a tristeza do bêbado ao derramar a última dose possível, a tristeza do dia seguinte da cocaína, a tristeza da passista na quarta feira de cinzas, a tristeza do ator que nunca mais conseguiu voltar aos palcos, a tristeza do católico que assistiu seu Papa se ir, a tristeza do homem que ao ver seu reflexo no espelho se descobre feio, a tristeza das vítimas, a tristeza de um herói que perdeu a luta, a tristeza da lua quando vê o sol chegar, a tristeza do silêncio quando a orquestra se cala, a tristeza que ter de aturar mais uma novela da Glória Perez, a tristeza de quem acha que sabe mas tem certeza de nada saber...
No meu dicionário remendado por quatro tiras de fita-durex, tristeza aparece como “qualidade ou estado de triste; falta de alegria; pena, desalento, consternação; aspecto revelador de mágoa ou aflição”. Se algum dia me pedirem para reescrever o dicionário, substituiria por “mal às pampas; estado em que o ser humano encontra mais facilidade para se encher de café, cigarro e birita; falta de vontade de comer, atender o telefone ou jogar purrinha”.
Já a tristeza para quem escreve é uma eterna dificuldade em saber a hora de colocar um ponto final. No texto e nas coisas da vida. E para a alegria dos demais, espero que desta vez esteja no lugar certo. Ponto.
Comments: Post a Comment

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?